terça-feira, 4 de novembro de 2008

Será que é o fim dos tempos?

Acordei atordoado durante a madruga, completamente molhado. Tudo era decorrente de um calor infernal que castiga os países dos trópicos. Cabeça latejando e a paisagem que circunda a janela estava intacta. Parecia uma pintura. Nenhum sinal de vento ou chuva.

Caminhei sonolento pelo corredor levemente iluminado pela lua, em direção à geladeira. Água era o bem mais sagrado naquele momento, juntamente com um ventilador, é claro. O calor era tão intenso que as estrelas davam a sensação de emitir calor, assim como o sol.

Abri com avidez a “fazedora de gelo” e me assustei com o pingüim que fica em cima dela. Estava dentro freezer, abatido e visivelmente choroso. Claro que aquilo não era normal e tive a sensação de que o calor era tão alucinógeno quanto um cigarro de ópio. Eu estava vendo coisas?

Instintivamente imaginei o que poderia estar ocorrendo com o meu enfeite de pingüim.

Tudo era proveniente do calor, ele deveria estar triste porque o mundo está se desmanchando, derretendo e seus familiares e amigos podem deixar de existir. Gritei abismado: CLARO QUE SÓ PODIA SER ISSO! Imagina a situação dos pingüins que vivem nas geleiras, a cada dia pedaços enormes de placas de gelo viram água e o efeito estufa está transformando os árticos em um microondas gigante. Ursos perderam suas vidas e as focas marinhas entre outros animas tipicamente “gelados” daqui a algum tempo deixaram de existir. A água cobrirá todo o planeta terra e nós humanos não fazemos nada. Nós só devastamos mais, compramos mais pra aquecer a economia que assim produz mais e consequentemente polui mais. Tudo isso aquece o planeta terra. Agora ficou claro. É exatamente isso que está se passando na cabeça daquele pequeno esfeniscídeo. Só podia ser isso que estava o deixando deprimido.

Para tentar amenizar a situação e evitar quem sabe um suicídio do bichano, proferi palavras de carinho e incentivo. Disse que tudo iria mudar, falei que seria um membro do Greenpeace e que de agora em diante lutaria pelo planeta.

Rapidamente ele me respondeu: Você está louco? O que você está falando sua anta. Fecha essa porta e vá dormir.


Eu: O que é isso pingüim? Só estou querendo ajudar. Vi a sua atual situação e já sei o que está ocorrendo, sei exatamente o motivo da sua tristeza.

Pingüim: Ahhhhh é? Você sabe? Não me faça rir seu humano idiota. O que é então que se passa comigo?

Eu: É por causa da destruição do planeta, das geleiras que estão se derretendo né?

Pingüim: Hahahahahahahahaha, claro que não. Você acha que eu vou chorar por isso? Motivos tão tolos que são simples de se resolver com ar condicionado, ventilador, geladeira pra fazer os gelos...

Eu: O que você disse? Não estou acreditando, porque você está tão triste e nervoso então?

Pingüim: Você não acompanha os jornais não seu desprovido de cultura popular? O Dado Dolabella brigou feio com a Luana Piovani. Isso é um caos, um casal tão lindo terminar assim. Eu quero morrerrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr. Oh! mundo cruel. O que vou fazer com todos os pôsteres que comprei deles juntos, todas as cartas que escrevi e ainda não encontrei e o blog que criei só para eles? A vida não tem mais sentido. Ohhhhhhh meu Deus, por quê?


Não acreditando no que ouvi, virei as costas e fui dormir. Mas antes desliguei a geladeira e deixei a porta aberta na esperança que toda a ignorância e a alienação desse povo pudessem morrer. Talvez assim o mundo poderia não acabar ou pelo menos, os jornais sensacionalistas e boçais não seriam uma realidade, pois não existiriam pessoas tolas para comprarem matérias idiotas.


Ícaro Vieira