sexta-feira, 29 de junho de 2007

Não volta nunca mais.

Já se foi o tempo em que não tínhamos hora para chegar em casa.
O MUNDO ERA LIVRE.
Onde a inocência acompanhava cada criança e a falta de maldade
permanecia nas almas infantis.
Já se foi o tempo em que corríamos descalços pelas ruas

esburacadas e barrentas da cidade, onde em cada esquina existia
pelo menos uma pipa sendo empinada com sol a pino, colorindo os
céus em um balé harmonioso. Tempo em que os passeios de terra
eram dominados por filas enormes de energéticos adolescentes que
jogavam bola de gude e pião. Dormia-se na casa do vizinho sem
nenhuma preocupação e sinal de chuva era motivo de alegria, de
renovação; pode acreditar.
Nos períodos de férias, todos saiam de suas casas durante a

madrugada para fazer um estrondoso luau entre as matas virgens

que se transformavam em um esplendoroso refúgio. A noite era
banhada pelas estrelas e regada com muita música e longas histórias.
Tempo em que não existiam computadores, orkut, celulares, MSN,

blogs de sacanagem... Tempo em que conversar olhando no olho

era o melhor passa-tempo. Perdia-se a noção das horas de tanto
papear e os pais nem se preocupavam com a demora dos filhos,
pois a cidade era adormecida pela calmaria de seus grilos, sapos,
insetos que cantavam suas canções de ninar só para nos ver dormir.
Almoçava-se ao meio dia com toda família junto à mesa.
A hora da
refeição era uma hora SAGRADA. Conversas, conselhos,

auxílios; tudo era servido no melhor estilo.
TEMPO BÃO.
Tempo em que jogar bola em meio aos paralelepípedos era o melhor

programa da sessão da tarde. Nadar pelado no rio e pegar
xistose
era natural e tradicional. Tempo em que todo mundo tinha um
avô que
levava os netos para pescar, que contavam longas histórias
sobre
mitos
antigos e que fazia a festa da criançada.
Leite vinha direto da vaca e não da caixinha (tem gente que nunca viu
uma vaca e acredita que o leite aguado que tomam todas as
manhãs
vem mesmo da caixinha), milho dava no pé e não na lata.
Briga de criança era coisa normal, apenas alguns tapas e empurrões.

E no final todos se transformavam em bons amigos comemorando a
nova amizade com um lanche da tarde e não no IML.
Tempo em que se brincava de cabra-cega, pique esconde, pula corda.
Tempo em que se respeitava os pais, os professores, os mais velhos.
Tempo em que as bebidas alcoólicas eram destinadas somente aos

adultos, a meninada acreditava em Papai Noel, Coelho da Páscoa,
Saci-Pererê, Mula sem Cabeça... Tempo em que acreditávamos nas

pessoas, não precisávamos assinar papéis.
Tempo em que não sabíamos da existência dos Calheiros, FHCS,

Barbalhos, Guimarães, Colors, Sarneys...
Tempo bão. Que não volta nunca mais.
Apenas a saudade perdura e abstratamente faz o velho mundo
vir
à tona em pensamentos retrógrados, antiquados, mas muito melhores
do que o caos e a desordem de uma vida desregrada e sem limites.

Saudades!!!


Ícaro Vieira

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Exploração ou diversão?

Será que estão me testando? Você me pergunta em alto e bom som.
Você precisa passar por tudo isso. Afirmo-lhe com toda convicção.
Não sei até onde você pode agüentar e a corda sempre arrebenta
para o lado mais fraco.
Cale a boca. Respire. Conte de um até mil. Deixe as pupilas
dilatarem, o sangue vai esfriar. Não se esqueça que você depende
deles. Analise os fatos e tome-os como base. Isso tudo fará parte do
aprendizado. São eles que mandam, que ditam as regras do jogo.
Você obedece. Compreendeu?
Exploração? Talvez. Diversão? Pode ser.
Difícil dizer o que se passa na cabeça de quem manda. Até hoje só
obedeci, nunca mandei. Extrair cada gota da sua riqueza, usar em
prol do benefício deles. Capitalismo selvagem.
Nem pense em descansar, corpo mole é motivo para demissão por
justa causa. Vamos ver até onde vai. Para sempre? Não. Você já está
ficando velho demais e a sua desenvoltura não é mais a mesma. Não
podem perder para a concorrência. Eles precisam de mentes jovens,
novas idéias, sangue novo. Sinto muito mas você não se encaixa nos
padrões atuais do sistema. Depois de assassinarem os seus mais de
50 anos dedicados à instituição, amputam os seus membros
inferiores e dizem com toda comoção para você seguir o seu caminho
com as próprias pernas.

Desculpe meu velho amigo, esqueci de lhe dizer. Sua aposentadoria
provavelmente não pagará os seus gastos e o momento que você teria
para descansar não existe mais. É melhor procurar fazer um bico para
somar ao orçamento final. Boa Sorte! Você irá precisar.


Ícaro Vieira

domingo, 24 de junho de 2007

Um forno industrial de idéias


A cada instante me deparo com novas idéias que são regurgitadas
inúmeras vezes até serem transformadas em um bolo alimentar
perfeito que será digerido em alguns minutos. Não tem hora e nem
dia certo para surgirem, simplesmente aparecem e fazem da minha
mente um complexo mundo de palavras, letras, imagens e sons.
Espero que estejam gostando desse labirinto surreal onde a cada
viagem uma nova experiência renasce num mundo de ilusão.
Até a próxima partida, mas com o transtorno nos aeroportos ela pode
atrasar um pouco (quem sabe 5 horas). Depois é só relaxar e gozar. Uma sugestão da nossa Ministra do Turismo.


Ícaro Vieira




terça-feira, 19 de junho de 2007

Se você não quer perder o seu dia. Por favor, NÃO LEIA.

Ao tocar o despertador, meus olhos abriram com uma má vontade
de receber o dia, parecia que já desconfiava da péssima notícia que
estava por vir.
Afim de espantar o sono gostoso que dominava meu corpo, tomei
um longo banho. Água quente adrenalizando a minha face e levando
ralo abaixo a preguiça que me assolava. Até o sol não quis aparecer
e a chuva insistia em derramar toda a sua tristeza. Será que ela
também pressentia o que iria acontecer?
Tomei um gole de café amargo e fumei um cigarro para enganar a
fome. A cada trago, eu esquecia dos problemas que me atordoavam
e por um instante me sentia bem, como se o mundo fosse do jeito
que eu sempre quis.
Caminhei até o ponto de ônibus mais próximo de minha casa, já
estava meia hora atraso. Imaginava o sermão do patrão e a pilha de
papel que me esperava em cima da mesa.
Calafrios constantes arrepiavam cada pelo do meu corpo e já
comecei a me preocupar. Nunca fui de sentir premonições, o que
poderia acontecer de tão horrível ou aterrorizante assim?
Cheguei ao meu velho emprego, para ser exato já percorro esse
caminho há 27 anos. Uma vida sentada atrás de uma mesa
carimbando papéis. Mas isso não vem ao caso. Peguei um copo
com água e tomei dois comprimidos de Prozac. Tensão e medo
provocavam os meus instintos a cada segundo daquele dia. O suor
frio escorria do meu rosto escrevendo a aflição com gotas salgadas
em minha testa. Perdi o apetite e nem quis pensar em almoçar. Para
arrastar à força um pouco do tempo e me distrair por alguns minutos,
abri um famoso portal conhecido em todo o Brasil, de uma famosa
emissora de TV (resolvi escrever isso porque acho muito engraçado
quando as emissoras falam uma das outras em reportagens e não
querem fazer propaganda da concorrência ou temem algum processo.
Até parece que falando assim ninguém sabe de qual emissora
estamos falando). Lendo as notícias do dia, me deparei com algo
horrendo, sórdido, desumano, inexplicável. Logo descobri, fiz alusão ao que me atordoava. Claro que só podia ser isso.
As lágrimas insistiam em jorrar dos meus olhos e só pensava na
desidratação que estava por vir, eu não parava de chorar.
Perguntava-me a todo o momento. Por quê? Por quê? Será que o
destino quis assim?
Depois de dois meses, Íris e Alemão terminam sua história de amor.
Triste realidade que atrapalhará o desenrolar da economia, da
globalização, das relações internacionais. A notícia caiu como uma
bomba em minha vida e não sei se conseguirei ser mais o mesmo.
Desculpem-me, eu não consigo mais escrever, apenas chorar.
O que será do mundo? A única coisa que me resta é torcer para que
seja mais uma balela desses sites de fofoca. Não posso imaginar a
vida do planeta terra sem os dois se amando.


Ícaro Vieira

domingo, 17 de junho de 2007

Ser héroi custa caro

Hoje acordei meio estranho.
Acordei com uma vontade incontrolável de ser alguém completamente
diferente. Ousado...
Acordei com uma imensa vontade de mudar o mundo.
Solucionar os problemas de falta de saneamento básico na região do
nordeste mineiro, com vontade de escorraçar a miséria que afaga
violentamente o sertão baiano, acabar com a corrupção que destrói o
meu país de norte a sul.
Acordei com espírito de Robin Wood, talvez um pouco Gandhi.
Nunca tive tanto entusiasmo, sede de transformação. Esperança.
Resolvi abrir os jornais. Escândalo no senado, corrupção na Polícia
Federal, máfia das ambulâncias... Resolvi fechar os jornais.
Resolvi abrir alguns sites na Internet. Prostituição de menores,
professora encontra maconha na mochila de criança de 6 anos, polícia
mata inocentes... Resolvi fechar essas benditas páginas.
Não tenho nada para fazer. Sair de casa nem pensar, essa hora posso
ser roubado, seqüestrado, assassinado. Ligar a TV não vale a pena,
sensacionalismo barato, falta de cultura, talvez um pouco de sexo e
violência explicita em pleno horário nobre.
Um instante de silêncio domina o meu apartamento. E aquela vontade
com que acordei de mudar o país, já não me instiga mais.
Sabe de uma coisa? Ser herói no Brasil dá muito trabalho e sai caro.
Tem que pagar neguinho ali, corromper aqui, negociar acolá. Só de
pensar nessa maracutaia me dá azia.
O melhor a fazer é tomar um sal de frutas e dormir de novo.

Nos meus sonhos eu posso ser o que quiser.


Ícaro Vieira

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Música para se comer também com os olhos


Seria marcianos falsificados (sempre ouvi falar que eles são verdes
e não azuis)
ou os smurfs adultos? Ou seria uma nova doença contagiosa?
Nada diss
o.
Esse é um famoso grupo denominado Blue Man Group. Conhecido

nos Estados Unidos por suas apresentações espetaculares. A cada
dia esses “monstrengos” vêem ganhando o mundo e em breve estarão
fazendo apresentações no Brasil. O trio de homens azuis são capazes
de misturar um bom espetáculo auditivo com atrações visuais.
Um verdadeiro teatro repleto de surpresas e números lúdicos, tudo
permeado por uma trilha sonora estonteante.
Acreditem! Eles “tiram” sons incríveis com canos de pvc. Coisa de

outro mundo (talvez seja por isso que eles se pintam de azul).
Completamente diferente
e ousado.
Aí vai uma dica: não escute apenas o cd. Quem irá conhecer o

Blue Man Group pela primeira vez tem que assistir o show. É preciso
Vê-los tocar, interagir com a platéia, uma ex
periência sensorial capaz
de levar você a um mundo
desconhecido e lisérgico.

Ícaro Vieira

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Difícil compreender

Qual o motivo de tantas guerras, brigas, revoltas, maldades, fome, corrupção?
Não ouse compreender. Aí está o resultado do último homem que tentou entender a raça humana. Emagreceu de tanto se questionar.


Ícaro Vieira

Qual será o fim da história?

Acumular, desperdiçar, guardar na gaveta até que vença o prazo de validade.
Tudo isso faz parte do ser humano. Humano?
Jogar comida fora e deixar o próximo morrer de fome é humano?
Ver uma criança sentir frio na calçada e não doar um agasalho é humano?
Desviar verbas destinadas à educação e saúde para contas nas Ilhas

Cayman é humano?
Não posso acreditar que tudo isso faça parte da índole do homem.
Quanto mais, melhor. Esbanjar. Encher a boca de comida e cuspir.

“E se sobrar?”
Joga fora, quem quiser é só pegar o resto no lixo.
Desperdiçamos tudo. Água, luz, comida, cultura, educação, amor...

Às vezes me pergunto: Será que isso é apenas uma ação do povo
brasileiro ou será do ser humano em geral? Tire suas conclusões.
A verdade é que a nossa grande missão neste novo século é
reinventar o modo de viver. Só sobreviveremos a esse holocausto
se mudarmos radicalmente as nossas atitudes.
Devemos cessar o bombardeio que motiva o consumismo, que
instiga a quem não tem condições financeiras roubar, matar, traficar
para adquirir um celular da moda, um carro transado e por ai vai.
Nunca estamos satisfeitos com o que temos.
Será que já nascemos assim ou será uma manipulação da indústria?
Nossos governantes são megalomaníacos. Doença que destruirá

o mundo se não for tratada com doses cavalares de educação,
cultura, entretenimento, saúde, moradia e tantas outras necessidades
básicas que o nosso povo não recebe.
Sei que isso é obrigação do estado, mas se não intervirmos, não sei
o que pode acontecer. Ou melhor, na verdade eu sei, mas prefiro não
lhe falar. É assustador.
Quem planta vento, colhe tempestades. Por isso devemos agir antes

que um tornado passe por nossas cabeças e acabe com nossas vidas.
Ele já está se formando, aos poucos está ganhando força,

nas favelas, nos becos e periferias, mas podemos revirar o jogo.
Você já percebeu que eles fazem de tudo para desviar o foco das

atenções? Só falam do Pan 2007, da Copa América, da cor da
calcinha da fulana, do peitinho da ciclana. Mas os milhões que foram
roubados, e as propinas, corrupção, carros importados comprados
com o nosso dinheiro? Eles só pensam em acumular mais e mais
riquezas, multiplicar os milhões.
Quando penso na máfia chefiada por bandidos engravatados eu
tenho enjôo. Nós queremos comida, diversão e arte. De circo e pizza
já estou estupefato.
Consumismo gera consumismo que gera violência. Comprar, adquirir,

roubar, matar, vender, cheirar... tudo isso está intimamente relacionado.
Até quando vamos ficar calados e suportar? O que você pode fazer
para ajudar o mundo?
Jogue fora sua falta de vontade, deixe vencer o prazo de validade

da sua inércia, pense e comece a agir. Sempre existe alguém ao
seu lado querendo mudar a situação.
O futuro está em nossas mãos.
Agora cabe a nós escrevermos o final da história.


Ícaro Vieira

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Brasil. Um país de quase todos.

"Acordei!"
Foi o que ela me disse.
Parou de fumar, de cortar os pulsos, de se embriagar.
Largou as más companhias e já vê o céu se encher de azul.
Até quando você vai aguentar?
"Não sei.
Eu vou tentar."
Respondeu curto e grosso.
É melhor não estragar os planos dela, vou deixá-la tentar abandonar
os vícios e seguir por outra direção. Mas às vezes é
preciso entorpecer a alma para segurar a barra e não
entrar em erupção.
Ela, não consegue apenas anestesiar a dor. Para satisfazê-la, é
necessário entrar em coma profundo. Usar tudo que for possível,
ultrapassar todos os limites e sangrar. Excesso e paranóia dominam
o seu ser.
Cortou os cabelos, comprou roupas novas e procurou emprego;
nenhuma vaga. Triste verdade que humilha milhões de brasileiros.
Noites sem pregar os olhos revisando cada rodapé dos jornais, há de
encontrar uma vaga, ainda acredita em milagres.
"Não falei? Garçonete em um pub. Deus olhou para mim."
Agradeceu em alto e bom som.
Primeira semana, um sucesso. Aguentou firme até inteirar o mês.
As contas chegam sem parar e o suado salário vai direto
quitar as dívidas. Trabalha para sobreviver, salário curto, uma
miséria para falar a verdade.
Acorda às 7 da manhã, pega dois ônibus lotados e
começa a ralar às 10.
Encerra o expediente as duas da madrugada. Difícil aguentar a pressão.
Todos se divertindo, bebendo, fumando, se comendo com os olhos,
prostituindo. O cheiro da orgia começa a lhe incomodar. Fissura!!!
Segundo mês. O medíocre salário já não dá para pagar as contas e
roubar alguns trocados no caixa é a opção mais eminente.
Ao fim de mais um dia o stress é total.
Apenas um trago para relaxar, quem sabe uma dose de run.
Não aguentou a tentação. Eterna dependente química
vigora em suas veias.
O patrão descobre o desfalque. Olho da rua sem direito a nada.
Fura o mês do aluguel e é despejada. Sem comida, sem estudos,
sem expectativa de vida, sem lugar para passar a noite.
Sua mente sonha com o entorpecer.
Vira a esquina ao lado, uma boca de fumo. Uma pedra?
Sem dinheiro o corpo vira moeda
de escambo. Sexo em troca de sanar o vício.
Roubo, prostituição, drogas. Apenas mais uma na esquina cheirando
suas esperanças, sua refeição, seus planos e sonhos.
Voltou à rotina. Ela conhece bem essa vida e espera a morte chegar,
pois aguardar a esperança neste país demora demais.
Ela não tem futuro. É apenas mais um problema social.
Vamos esquecê-la, pois rapidinho ela apodrecerá.
Brasil. Um país de todos.
Será?


Ícaro Vieira