segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Liberdade Ltda

Começo esse texto com uma pergunta simples, mas instigante. Gostaria que você fizesse uma profunda reflexão e respondesse com toda sinceridade. Você realmente tem liberdade de escolha, de opinião, liberdade para traçar e escolher o rumo de sua vida ou você é mais um fruto do sistema?
A grande maioria responderá instintivamente que tem liberdade, que é livre, que escolhe e faz aquilo que bem entende, mas a verdade é camuflada, feita para lhe enganar, passeando sorrateiramente no seu subconsciente e dominando as suas ações. Você não escolhe aquilo que quer, escolhe aquilo que o sistema quer que você queira. Complexo? Vou tentar lhe explicar melhor.
O início é bem antes do seu nascimento. Você precisa contar com a sorte, seus futuros pais precisam ter amor um pelo outro e dessa fusão gerar um fruto que represente concretamente essa união, no caso você. Se por algum motivo você é filho de mãe solteira, o preconceito já começará a assombrar o seu longo caminho, as pessoas irão comentar, sua vida será dura, seus colegas de aula levarão lindos trabalhos para o papai e você sentirá a falta dele, irá chorar desesperadamente e não alimentará a economia do país com a compra de um lindo presente para o Dia dos Pais. Mas isso não é o mais importante, você precisa rezar muito, não para ter pais que se amam e sim pais que tenham grana (até rimou, estou ficando especialista nisso). Você precisa nascer em um hospital moderno, ter um ótimo convênio médico, enfermeiras a sua volta, mamadeira importada, carrinho de bebê da moda, estudar em uma escola particular que garanta a sua vaga na faculdade e mais um monte de coisas que irão fazer o seu círculo de amigos lhe aceitarem. Para a grande maioria a felicidade está escondida em notas de dinheiro, em produtos das melhores marcas, na aceitação perante a sociedade. O capitalismo faz um cerco a sua pseudo-liberdade e você irá escolher aquilo que lhe possa dar mais status.
Quando você entra todo de branco em uma loja para fazer uma compra, pode ter certeza que as probabilidades de você ser muito bem atendido ultrapassarão os 90%, sabe qual o motivo? Os atendentes logo irão imaginar que você é um médico com muitos reais para gastar, eles nunca pensarão que você é um Pai de Santo ou Enfermeiro (“profissões” menos valorizadas). Mas se você está de terno e gravata, remete à primeira instância a um Advogado bem sucedido, Promotor ou Juiz.
Vamos ao que interessa, se você está prestes a fazer um vestibular e se por algum motivo você quer escolher o curso de Letras, Publicidade, Educação Física e tantos outros subjulgados, esteja preparado para as mais variadas reações. Seus pais, avós, vizinhos e amigos irão torcer o nariz (salvo exceções). Tanta profissão para você ficar rico e você foi escolher logo essa? P*** M****. Pense bem ao escolher o fim para o seu futuro, dinheiro ou felicidade? Se puder conciliar os dois, melhor ainda.
Qual o motivo de escolher um óculos da Okley? Será que ele realmente é melhor do que os outros ou é status? Você teria coragem de chegar em uma festa de 15 anos dentro de um fusca alaranjado? Claro que você prefere um Honda Civic, Vectra, Corolla... Status, palavrinha mágica e ordinária, fortificada pela mídia. Você não escolhe aquilo que quer, você escolhe aquilo que o sistema diz que é o melhor. Quem não quer ser aceito, ser o líder, chegar em uma roda de mulheres ou homens e ser desejado, ser espelho para os outros? Será que você está satisfeito dentro desse terno italiano ou preferiria estar de bermuda e chinelo dentro do seu quiosque na beira de uma praia? Mas isso não rende dinheiro, muito menos respeito. Sua profissão condiz com aquilo que você sempre sonhou ou vai em consideração ao desejo dos seus familiares? Largar o curso de medicina e ser Gourmet? Você pirou né, cozinheiro não tem gabarito, ficar com cheiro de gordura e ganhar pouco?
Porque usar um tênis da Nike e não um que tenha as mesmas características, mas com um preço inferior? Essas perguntas irão martelar em sua mente, mas pode ter certeza que não mudarão as suas atitudes, você continuará a ser o mesmo, fruto do meio. Mas isso não é sua culpa, todos são iguais, ingleses, indianos, portugueses, belgas. Uns mais, outros menos, mas todos somos iguais.
Eu quero ter sucesso, dinheiro, aceitação, status, conforto, tranqüilidade, respeito, quero carros do ano, imóveis a perder de vista, mulheres. Quero tudo e muito mais, quero jantar nos melhores restaurantes, usar as melhores roupas, quero transar com as mulheres mais lindas, quero que você me veja e tenha inveja, que me veja e me deseje. Quero sempre mais que eu possa ter. Será que a felicidade se resume a isso? Cá para nós, se for, que pobreza de espírito.
Alienígena é aquele que vai na contramão, que faz aquilo que quer sem se preocupar com a opinião dos outros, que usa um chinelo velho desconhecido, que compra livros e não roupas caras, que vê a felicidade em cada simples detalhe, no acordar e ver o sol nascer, em um sorriso, em uma palavra carinhosa de bom dia, na simplicidade.
Difícil sobreviver e seguir a suas verdadeiras vontades, no decorrer do seu caminho, elas serão modificadas, moldadas, refeitas pelo sistema . Aquilo que era legal e prazeroso para você, talvez não será mais, não porque você queira, mas pela mídia que através da persuasão instigante levará seus pensamentos para outros lados, fazendo você pensar e desejar as mesmas coisas que todo mundo.
Status, o ser humano sempre precisou disso para viver. Quem não quer? Olhe a sua volta e me responda.



Ícaro Vieira

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Buena Vista Social Club

Depois de algumas semanas sem postar uma dica musical, vou me redimir desse erro gravíssimo com uma das maiores bandas de Cuba.
Nascido na década de 40, o Buena Vista Social Club
era um clube de dança e atividades musicais de Havana, local onde os músicos se encontravam e tocavam, entre eles Manuel "Puntillita" Licea, Compay Segundo, Rubén González, Ibrahim Ferre, Pío Leyva, Anga Díaz.
As canções e o ritmo envolvente fazem renascer em nossa memória toda alegria e riqueza que existiam em Cuba, nos bons tempos de Fidel e sua turma. Ao longo dos anos novos membros entraram no grupo, até porque ninguém vive eternamente.
Nos anos 90, aproximadamente 40 anos após o fechamento do clube, o músico cubano Juan de Marcos González e o guitarrista americano Ry Cooder gravaram um disco chamado Buena Vista Social Club com os músicos tradicionais. Essa obra prima da música se transformou também em um maravilhoso e emocionante documentário que foi aclamado pela crítica, sendo indicado ao Oscar na categoria Melhor Documentário e ganhando o prêmio de Melhor documentário no European Film Awards.
Já em 2006 foi lançado Rhythms del Mundo, um álbum com as estrelas do Buena Vista e da música cubana I
brahim Ferre (sua última gravação antes de morrer em 2005) e Omara Portuondo com artistas como U2, Coldplay, Sting, Jack Johnson, Marron 5, Arctic Monkeys, Franz Ferdinand, Kaiser Chiefs entre outros.


Obs: Se você gostou da dica e quer saber mais sobre esse maravilhoso país, procure também o Filme “Cuba Feliz”.










Ícaro Vieira

domingo, 16 de setembro de 2007

Um mundo louco de idéias


Idéias malucas, delinqüentes, inteligentes, sangrentas, malignas, prazerosas, diferentes, amorosas, fugazes, alucinantes, idiotas, burras, excepcionais, tanto faz, ainda bem que temos idéias.



Ícaro Vieira

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Minha outra metade

Ando meio subalterno e só metade de mim está triste. Estou meio
atordoado, meio pacífico, meio estranho, meio cabisbaixo.
Digamos, meio indignado com a situação atual dos seres humanos
que são metade homem e metade animal, metade bom e metade
canibal, metade corrupto e metade falso. Talvez, se não mudarmos
as nossas atitudes, seremos podres não pela metade, mas por
inteiro. Estamos caminhando para o fim dos tempos.
Não me comovo por completo, não me satisfaço por inteiro e preciso
de alguém que me apóie nas minhas decisões, que me ajude a
escolher o rumo certo e que some à minha outra metade. Preciso de
um Santo, de um Deus, de uma droga, de um amigo, de um
psicólogo, de uma mulher, de um anjo, de um pastor, de uma bola
chamada Wilson, sei lá. Sozinho não somos ninguém, sozinho
enlouquecemos e esquecemos que somos pessoas capazes de ir
muito além.
Sou apenas meio, meio insoso, meio desligado, meio covarde.
Sou completamente pela metade. Ainda não consegui formar uma
opinião concisa e inteira do que está acontecendo, mas acho que
os meios de comunicação, os inteligentes programas de TV e revistas
sensacionalistas, me deixaram assim... meio bobo. As eguinhas
pocotós, as lacraias, os batidões, me lesaram pelo resto da vida e
hoje apresento idéias desconexas, perdidas, procurando contexto e
morrendo pela metade. Não consigo pensar e se escuto uma
musiquinha, logo começo a mexer a bunda, força do hábito no país
de fazedoras de mini-prostitutas (me refiro a apresentadoras de
programas infatins que todos nós conhecemos) que fazem sucesso
na telona e conquistam todo o país.
Mas para que ser completo? Me diz qual a importância de ser
autônomo, de construir a sua própria vida e chegar a suas próprias
conclusões? Nós precisamos deles, estou falando dos nossos
queridos deputados, prefeitos, vereadores, presidentes e por aí vai.
Um é a metade do outro, juntos somos um só. Veja bem, nós
pagamos os impostos e eles recebem, nós trabalhamos dia e noite
e a grande maioria rouba. Não disse? Um completa o outro, mais ou
menos como garfo e faca, arroz e feijão. Alguém tem que trabalhar
para o outro gastar.
Hospitais pela metade, professores com formação a desejar, pontes
não concluídas, estradas semi-prontas ou não feitas, alunos
semi-analfabetos, talvez seja daí o meu sentimento meio
inconformado, insatisfeito e alterado. Mas tudo isso passa, é só ligar
a TV e assistir um bom jogo de futebol, ou quem sabe uma dupla
sertaneja cantando de graça na praça da cidade. As nossas angústias
somem e reverenciamos a nossa falta de memória, o abandono das
autoridades, a morte de milhares de miseráveis, os tiroteios, a falta de
cultura e por incrível quepareça em pleno século XXI, a falta de
informação.
Em um país onde só existem meias verdades, onde apenas metade
da história é contada, onde você precisa se dividir em dois para
sobreviver, onde uma pequena parcela é beneficiada, onde as leis
só servem para os mais fracos, me diz para que eu quero ser
inteiro? Se tudo é pela metade, eu preciso ser completo?
Que mania de ser diferente, alienígena, mutante. Onde já se viu ser
inteiro, perfeito, não desviar dinheiro, não trapacear, não matar por
ganância. Que mundo é esse? Estou tendo alucinações e imaginando
um mundo novo, surreal e estranho.
Só para celebrar essa nossa
competência em fazer tudo pela metade e por sinal fazemos isso
muito bem, gostaria que você olhasse ao seu redor. Veja milhões de
reais investidos em obras que não chegaram a lugar algum, processos
penais parados, leis abandonadas e tantos outras coisas largadas
pelo meio que não dá para listar.
Então para comemorar, não vou ser diferente dos demais, vou deixar
o meu texto sem conclusão, apenas pela metad



Ícaro Vieira

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

No olho do furacão

O vento forte sopra do sul para o norte e tenta me dizer que dias
difíceis virão. O que era certo, agora é duvidoso e o que era duvidoso,
eu já não sei mais. A instabilidade é o fator predominante e o vento
assobia feroz em meus ouvidos, dizendo que a vida é cheia de
contratempos.
As embarcações nunca se encontram seguras em um mar meticuloso
e traiçoeiro, difícil é manter-se erguido, conquistar um porto seguro
para deixar a tempestade passar e seguir em frente. Impossível ficar
indiferente a tudo que está acontecendo, medo, tensão, alívio,
saudade, prazer, tudo se mistura em um vendaval e carrega as
esperanças para o olho do furacão. Mas dizem que tudo que é
conturbado o final é sempre muito bom e vou acreditando nisso,
sendo levado pela força do vento para descobrir um novo mundo,
imenso de oportunidades para depois colher tudo aquilo que plantei.
Dizem que estou apenas começando e ainda irei conquistar todos
os meus sonhos diante de uma brisa suave que irá refrescar meus
pensamentos eloqüentes e confusos. Nós queremos o marasmo,
estabilidade, segurança, mas diante da fúria dos tempos é impossível
permanecer por muito tempo em um lugar tranqüilo. Por isso vou
aprendendo a dominar os meus anseios, acreditando que sou capaz
de ir além do que se vê.
Logo estarei de volta, em alguns momentos sendo vencedor e
derrotado, conquistador e conquistado, mas seguirei meu caminho de
cabeça erguida defendendo o que sempre acreditei.


Obs: Aguardem, novos textos virão... Vou esperar do seu
lado a tempestade passar, vou esperar do seu lado,
porque eu só posso esperar...


Ícaro Vieira