Começo esse texto com uma pergunta simples, mas instigante. Gostaria que você fizesse uma profunda reflexão e respondesse com toda sinceridade. Você realmente tem liberdade de escolha, de opinião, liberdade para traçar e escolher o rumo de sua vida ou você é mais um fruto do sistema?
A grande maioria responderá instintivamente que tem liberdade, que é livre, que escolhe e faz aquilo que bem entende, mas a verdade é camuflada, feita para lhe enganar, passeando sorrateiramente no seu subconsciente e dominando as suas ações. Você não escolhe aquilo que quer, escolhe aquilo que o sistema quer que você queira. Complexo? Vou tentar lhe explicar melhor.
O início é bem antes do seu nascimento. Você precisa contar com a sorte, seus futuros pais precisam ter amor um pelo outro e dessa fusão gerar um fruto que represente concretamente essa união, no caso você. Se por algum motivo você é filho de mãe solteira, o preconceito já começará a assombrar o seu longo caminho, as pessoas irão comentar, sua vida será dura, seus colegas de aula levarão lindos trabalhos para o papai e você sentirá a falta dele, irá chorar desesperadamente e não alimentará a economia do país com a compra de um lindo presente para o Dia dos Pais. Mas isso não é o mais importante, você precisa rezar muito, não para ter pais que se amam e sim pais que tenham grana (até rimou, estou ficando especialista nisso). Você precisa nascer em um hospital moderno, ter um ótimo convênio médico, enfermeiras a sua volta, mamadeira importada, carrinho de bebê da moda, estudar em uma escola particular que garanta a sua vaga na faculdade e mais um monte de coisas que irão fazer o seu círculo de amigos lhe aceitarem. Para a grande maioria a felicidade está escondida em notas de dinheiro, em produtos das melhores marcas, na aceitação perante a sociedade. O capitalismo faz um cerco a sua pseudo-liberdade e você irá escolher aquilo que lhe possa dar mais status.
Quando você entra todo de branco em uma loja para fazer uma compra, pode ter certeza que as probabilidades de você ser muito bem atendido ultrapassarão os 90%, sabe qual o motivo? Os atendentes logo irão imaginar que você é um médico com muitos reais para gastar, eles nunca pensarão que você é um Pai de Santo ou Enfermeiro (“profissões” menos valorizadas). Mas se você está de terno e gravata, remete à primeira instância a um Advogado bem sucedido, Promotor ou Juiz.
Vamos ao que interessa, se você está prestes a fazer um vestibular e se por algum motivo você quer escolher o curso de Letras, Publicidade, Educação Física e tantos outros subjulgados, esteja preparado para as mais variadas reações. Seus pais, avós, vizinhos e amigos irão torcer o nariz (salvo exceções). Tanta profissão para você ficar rico e você foi escolher logo essa? P*** M****. Pense bem ao escolher o fim para o seu futuro, dinheiro ou felicidade? Se puder conciliar os dois, melhor ainda.
Qual o motivo de escolher um óculos da Okley? Será que ele realmente é melhor do que os outros ou é status? Você teria coragem de chegar em uma festa de 15 anos dentro de um fusca alaranjado? Claro que você prefere um Honda Civic, Vectra, Corolla... Status, palavrinha mágica e ordinária, fortificada pela mídia. Você não escolhe aquilo que quer, você escolhe aquilo que o sistema diz que é o melhor. Quem não quer ser aceito, ser o líder, chegar em uma roda de mulheres ou homens e ser desejado, ser espelho para os outros? Será que você está satisfeito dentro desse terno italiano ou preferiria estar de bermuda e chinelo dentro do seu quiosque na beira de uma praia? Mas isso não rende dinheiro, muito menos respeito. Sua profissão condiz com aquilo que você sempre sonhou ou vai em consideração ao desejo dos seus familiares? Largar o curso de medicina e ser Gourmet? Você pirou né, cozinheiro não tem gabarito, ficar com cheiro de gordura e ganhar pouco?
Porque usar um tênis da Nike e não um que tenha as mesmas características, mas com um preço inferior? Essas perguntas irão martelar em sua mente, mas pode ter certeza que não mudarão as suas atitudes, você continuará a ser o mesmo, fruto do meio. Mas isso não é sua culpa, todos são iguais, ingleses, indianos, portugueses, belgas. Uns mais, outros menos, mas todos somos iguais.
Eu quero ter sucesso, dinheiro, aceitação, status, conforto, tranqüilidade, respeito, quero carros do ano, imóveis a perder de vista, mulheres. Quero tudo e muito mais, quero jantar nos melhores restaurantes, usar as melhores roupas, quero transar com as mulheres mais lindas, quero que você me veja e tenha inveja, que me veja e me deseje. Quero sempre mais que eu possa ter. Será que a felicidade se resume a isso? Cá para nós, se for, que pobreza de espírito.
Alienígena é aquele que vai na contramão, que faz aquilo que quer sem se preocupar com a opinião dos outros, que usa um chinelo velho desconhecido, que compra livros e não roupas caras, que vê a felicidade em cada simples detalhe, no acordar e ver o sol nascer, em um sorriso, em uma palavra carinhosa de bom dia, na simplicidade.
Difícil sobreviver e seguir a suas verdadeiras vontades, no decorrer do seu caminho, elas serão modificadas, moldadas, refeitas pelo sistema . Aquilo que era legal e prazeroso para você, talvez não será mais, não porque você queira, mas pela mídia que através da persuasão instigante levará seus pensamentos para outros lados, fazendo você pensar e desejar as mesmas coisas que todo mundo.
Status, o ser humano sempre precisou disso para viver. Quem não quer? Olhe a sua volta e me responda.
Ícaro Vieira
3 comentários:
Oi....andei sumida + valeu ter voltado e ler esse maravilhoso post.
Bom...acabei ficando triste depois de ler tudo isso, por que sou uma pessoa com uma forte personalidade...dizem madeira de dar em doído..rs
Mas não posso negar que as x sou produto do sistema tbm...vou pensar um pouco + sobre isso, dormir um pouco, e volto....quero continuar esse papo com vc...fiquei mal de verdade.....nossa...já volto.
Beijos e abgraços de saudade.
Lia
Nossa, que post deprê, Ícaro.
Eu me considero livre. To deixando tudo pra trás e indo fazer a vida na Inglaterra, acho que isso requer um certo desprendimento.
Abs,
Luciana
Ícaro Vieira,
Não é à toa que esta praga de capitalismo precisa ser extirpada para a própria sobrevivência do homem. O ser humano precisa pensar em uma nova forma de socialismo onde ele não seja objeto do sistema, mas, sim seu sujeito,com todas as imperfeições a ele inerentes, mas, de qualquer forma, senhor de seu próprio destino.
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