terça-feira, 16 de setembro de 2008

STAR

E na gastura do dia cai a noite sobre a cidade

Quente, insana, envenenada, vazia

Ela morde e assopra, bebe e cospe

Parece que não sabe o que quer


Ela quer o ódio, a fama, o tesão, o drama

Acende um cigarro e durante mais um trago inflama seus pensamentos

Quer ser maior que o sol, quer ser maior que Deus

Não crê na fé, mas quer ser superior


Uma taça de vinho mancha sua pele fria

E o azedo da solidão inferniza suas papilas gustativas

Trava os dentes, olhos arregalados típico de uma star

Ela não sabe o que é ficar só


Quer todos seguindo os seus passos falsos e joga flores mortas na janela

Anuncia uma cena que ficará na história

Ela adora chamar a atenção, adora insensatez

Pula do 10º andar rumo a glória e jamais será esquecida por esse ato


Tudo pela fama...



Ícaro Vieira

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O Velho e a Criança

Lá vem ele, caminhando lentamente. Dificuldade estampada em cada passo lento. Auxiliado pela enfermeira recém contratada, arrasta-se em meio aos carros apressados. Passeio matinal faz bem para os ossos, dizia o seu médico geriatria. Cabelos ralos, dentes são solitários em sua boca, fios brancos. A pele enrugada anuncia a vida sofrida e os muitos anos que passou para chegar até aqui. Os ruídos da cidade já soam baixo demais, as cores vivas das ruas ficam lavadas aos seus olhos. Nada pra fazer, marasmo, tédio. Ele espera a sua hora chegar e nada chama a sua atenção como antigamente. Não a nada mais para se descobrir. Tudo é velho.

Apesar de ter um dia inteiro pela frente, sabe como ninguém que o tempo é curto. O fim da linha se aproxima a cada instante e mesmo assim ele sorri para o que acaba de ver. Do outro lado do passeio observa atentamente, porém desfocado pela catarata que o incomoda a alguns anos, uma mãe carregando o seu filho. Uma criança que acabara de chegar ao mundo. Ainda não sabia andar, dependia da mãe para se alimentar e locomover.

Não apresentava dentes e com o dedo na boca massageava a sua gengiva. Cabelos finos e poucos, olhos arregalados. Apenas resmungava e emitia sons distorcidos, finos gritos que eram traduzidos pela mãe.

O velho e a criança. Pareciam vidas idênticas, apesar de uma simples diferença. Singela para uns, mas no fundo crucial. A vida chegava de um lado, a morte apertava do outro.

A linda criança estava inquieta, observava tudo com total atenção. Despertava para qualquer coisa que acontecia a sua volta. Escutava tão bem em alto e stéreo som. Enxergava cores novas, vivas, que iluminavam o que estava a sua volta. Tudo era novo. O mundo nascia para ela a alguns dias. Um pássaro sem penas que queria amadurecer e voar. Vôos altos e emocionantes.

Em alguns segundos eles se entreolharam e sorriram um riso verdadeiro. E no fundo sabiam que ali estavam duas gerações. Uma iria embora para dar lugar à outra. O velho homem estava feliz por ter realizado a sua missão e abençoava no olhar um novo ser que habitava a terra. A nova criatura divina iria fazer agora a sua parte e dar seqüência a magnífica arte da vida.

A mãe seguiu seu rumo sem perceber o diálogo existente entre os dois. Apenas quem acaba de chegar e quem está pronto para ir é capaz de assimilar.

O velho olhou para trás e disse baixo, uma espécie de resmungo:

- Seja bem-vindo. Estou aqui de passagem.


Ícaro Vieira

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Só pra quebrar o gelo

Durante uma bela noite, tomando algumas cervejas e batendo papo com os amigos em minha casa, um deles me mostrou esse programa de rádio. Achei super interessante e morri de tanto rir, porque apesar da brincadeira, os locutores dizem exatamente como é o comportamento das pessoas que moram estados diferentes. Cada local tem as suas manias, maneiras, diversões, costumes...
Esse programa também é para divertir um pouco, pois ultimamente estou apenas escrevendo textos pesados e altamente críticos. Talvez isso possa me transformar em um cara ranzinza, insuportável, azedo. Para que tal fato não ocorra precocemente, diariamente acesso blogs que me façam flexionar os lábios de orelha a orelha. Vamos rir um pouco e anestesiar a dor com boas gargalhadas.



Ícaro Vieira

terça-feira, 2 de setembro de 2008

País do "B" de Bunda

Trabalhava todo dia. De sol a sol, com chuva ou triste, cansado ou doente. Sempre estava lá de prontidão para qualquer situação. Sorridente mesmo quando sentia dor, honesto mesmo quando não tinha grana para pagar suas contas.

O suor escorria de seu rosto sofrido, suas mãos calejadas anunciavam um homem sofrido, porém honesto. Com as marcas do tempo e do stress estampadas em seu corpo, toda noite ele deitava tranqüilo em seu travesseiro e o sono era embalado pela esperança de que tudo um dia iria melhorar. As promessas de um novo governo pairavam sobre seus sonhos. Acreditava absolutamente nisso, pensava em dias melhores, em dinheiro farto no banco, os filhos em escolas de qualidade, no churrasco gordo em cima da mesa, em um posto de saúde descente perto de casa.

Acordava cedo e logo voltava para o pesadelo da vida. Cinco dias da semana eram dedicados exclusivamente à empresa, nos finais de semana fazia alguns bicos para aumentar o orçamento, mas mesmo assim alguns meses eram escuros e sombrios. Sem dinheiro para os filhos, sem lazer e sem amigos para se divertir. “A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte.” Durante as madrugadas sórdidas, chorava um choro rouco em baixo do travesseiro. Esgoelava a dor e engolia seco. Sangrava constantemente, diariamente quase que freneticamente. Seu salário medíocre não valia toda a sua competência e os anos de estudos. Mesmo assim seguia em frente sem cair. Um dia a vida iria melhorar. Ele acreditava nisso.

Mesmo acompanhando as notícias da TV, que focavam exclusivamente as corrupções e trapaças no senado, de jovens burgueses furtadores, de empresas que se tornavam bilionárias através de condutas duvidosas, ele não era capaz de passar ninguém para trás. Não acreditava e não queria o dinheiro fácil. Queria sim aumentar os seus lucros, mas com seriedade e honestidade. Apesar de não ter dinheiro, bens e qualquer coisa de valor material defendia até a alma a sua honra e o seu caráter. Tesouro cada vez mais raro, desvalorizado no Brasil e muito natural no primeiro mundo.

Foi criado assim, e dessa forma, conduzia seus filhos. Valores que aprendeu com seus pais ele , jamais caiu na armadilha aprendido, de nho oposto ao cultuado nos dias de hojeo mundo. filhos em escolas de qualidade, no churrepassava como um ato sagrado.

Pobre homem. Apesar das propostas para seguir o caminho oposto ao aprendido, jamais caiu em tentação. Desfaleceu sem ver os seus sonhos realizados, nunca foi reconhecido e cultuado. Respeito nunca teve dentro da sociedade capitalista e autocrática. E lá estavam seus filhos, chorando ao redor do seu corpo pálido e fraco. Não choravam pela ida do pai que se encontrava velho e desgostoso com a vida, mas sim porque teriam que trabalhar duro para pagar as despesas da exéquias e sobreviver no meio dessa falsidade. Trabalhar de verdade aqui não leva a nada.

Enquanto isso no país do futebol quem tem a perna torta ou uma bunda gostosa é rei.



Ícaro Vieira