terça-feira, 2 de setembro de 2008

País do "B" de Bunda

Trabalhava todo dia. De sol a sol, com chuva ou triste, cansado ou doente. Sempre estava lá de prontidão para qualquer situação. Sorridente mesmo quando sentia dor, honesto mesmo quando não tinha grana para pagar suas contas.

O suor escorria de seu rosto sofrido, suas mãos calejadas anunciavam um homem sofrido, porém honesto. Com as marcas do tempo e do stress estampadas em seu corpo, toda noite ele deitava tranqüilo em seu travesseiro e o sono era embalado pela esperança de que tudo um dia iria melhorar. As promessas de um novo governo pairavam sobre seus sonhos. Acreditava absolutamente nisso, pensava em dias melhores, em dinheiro farto no banco, os filhos em escolas de qualidade, no churrasco gordo em cima da mesa, em um posto de saúde descente perto de casa.

Acordava cedo e logo voltava para o pesadelo da vida. Cinco dias da semana eram dedicados exclusivamente à empresa, nos finais de semana fazia alguns bicos para aumentar o orçamento, mas mesmo assim alguns meses eram escuros e sombrios. Sem dinheiro para os filhos, sem lazer e sem amigos para se divertir. “A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte.” Durante as madrugadas sórdidas, chorava um choro rouco em baixo do travesseiro. Esgoelava a dor e engolia seco. Sangrava constantemente, diariamente quase que freneticamente. Seu salário medíocre não valia toda a sua competência e os anos de estudos. Mesmo assim seguia em frente sem cair. Um dia a vida iria melhorar. Ele acreditava nisso.

Mesmo acompanhando as notícias da TV, que focavam exclusivamente as corrupções e trapaças no senado, de jovens burgueses furtadores, de empresas que se tornavam bilionárias através de condutas duvidosas, ele não era capaz de passar ninguém para trás. Não acreditava e não queria o dinheiro fácil. Queria sim aumentar os seus lucros, mas com seriedade e honestidade. Apesar de não ter dinheiro, bens e qualquer coisa de valor material defendia até a alma a sua honra e o seu caráter. Tesouro cada vez mais raro, desvalorizado no Brasil e muito natural no primeiro mundo.

Foi criado assim, e dessa forma, conduzia seus filhos. Valores que aprendeu com seus pais ele , jamais caiu na armadilha aprendido, de nho oposto ao cultuado nos dias de hojeo mundo. filhos em escolas de qualidade, no churrepassava como um ato sagrado.

Pobre homem. Apesar das propostas para seguir o caminho oposto ao aprendido, jamais caiu em tentação. Desfaleceu sem ver os seus sonhos realizados, nunca foi reconhecido e cultuado. Respeito nunca teve dentro da sociedade capitalista e autocrática. E lá estavam seus filhos, chorando ao redor do seu corpo pálido e fraco. Não choravam pela ida do pai que se encontrava velho e desgostoso com a vida, mas sim porque teriam que trabalhar duro para pagar as despesas da exéquias e sobreviver no meio dessa falsidade. Trabalhar de verdade aqui não leva a nada.

Enquanto isso no país do futebol quem tem a perna torta ou uma bunda gostosa é rei.



Ícaro Vieira

2 comentários:

Unknown disse...

Nossa! Simplesmente você descreveu o que o nosso país deixa de reconhecer para infelizmente vangloriar o futebol, o carnaval e mulheres “frutas” que vendem seu corpo (em minha opinião são frutas podres). Não sabemos se o certo é seguir aquela ideologia em que fomos criados, com honestidade, seriedade, e principalmente, educação, ou guardamos tudo isso em uma caixinha em um lugar que não vamos encontrar mais, para nos tornarmos pessoas, acho que nem pessoas, mas seres boçais e medíocres, agindo de forma errada e fazendo o serviço porco. Ah, já nem sei o que pensar desse podre ou pobre país, por isso não condeno quem é brasileiro e procura um “outro mundo” para viver, porque nesse, as coisas não estão muito boas!

Abraços meu AMOR, adoro seus textos!

Rafaella Rocha

Gabriel Bertolim disse...

Ícaro, obrigado pelo comentário em meu blog, é um prazer!

Esse seu último texto é muito real e provocante, adorei! Recomendo até um filme que fui assistir ontem, LInha de Passe do Walter Salles. Puta retratação da sociedade brasileira, principalmente nas periferias, lindo!

Grande abraço, Gabriel