terça-feira, 2 de outubro de 2007

In Perfeições

Ele ama a sua unha encravada, ama seu mau hálito matinal.
Morre de felicidade em apreciar todos os seus defeitos, sua falta
de sono, sua falta de paciência, seu tom alterado de falar.
Gosta de se relacionar com pessoas humanas, pessoas que
admitem seus erros, seus defeitos, suas imperfeições. Que não se
assustam com a deformação. Em sua humilde forma de ver a vida,
a busca pela beleza a qualquer custo é uma desgraça surreal que
atormenta e destrói a naturalidade das coisas. Cabelos crespos
sendo alisados, cabelos lisos se transformam em caracóis, lentes
azuis para olhos negros, bronzeamento artificial para pele branca,
seios de silicone, tira aqui, coloca ali. Quem disse que a mutação
não existe? Oficina da beleza em cada esquina e quem você
conhecia ontem não é a mesma amanhã. Não porque ela
amadureceu, não porque ela aprendeu com o tempo, mas porque
foi transformada a força, entrou numa forma e virou outra.
Ele adorava os seus peitos pequenos, sua boca carnuda, seu jeito
natural e simples de falar. Seus erros gramaticais, sua inteligência
longe de ser artificial. Parava tudo para vê-la dançar, sem essa de
passinhos ensaiados, ousada e despretensiosa. Ela é diferente,
ela era ela mesma, nada de clichês. Escuta Kings of Leon, enquanto
todos rebolavam a bunda ao som do Latino, toca violão e ama
acampar. Ela gosta de curtir a vida e não liga a mínima para o que os
outros vão dizer.
Vocês podem estar pensando que ela não tem vaidade. Ela tem sim,
mas não essa doença que a gente vê por ai, escravas da beleza. Se
arruma para sair com as amigas, escova os dentes, perfumada das
pontas do cabelo até a unha do pé, corpo escultural (nada é
modificado), ela sabe ser ela mesma e não sofre por não ter os olhos
azuis e peitos de borracha. E sabe de uma coisa, ele adora o seu
jeito, cheio de imperfeições, exatamente como a nossa vida é.
Imperfeições fazem parte de tudo, mas queremos modificar a
realidade e criar um padrão estereotipado da perfeição.
Eles dormiram juntos mais uma vez e ele como sempre, rezou para
a noite passar rápido, só para ver os seus olhinhos inchados, sua
voz rouca e sentir o seu mau hálito matinal.
Ele adora imperfeições.



Ícaro Vieira

Um comentário:

Pedro Américo disse...

ehehehehe
alfaces foi ótimo..

do caralho o texto mermao...

esse Império da Beleza faz muito mal a muita gente
a alto estima das pessoas cai a níveis desgraçados só pq nao conseguem ser `bonitas`

ainda bem que existem pessoas que tem um bloqueio contra essa merda toda.

=D

um abraço