quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Minha outra metade

Ando meio subalterno e só metade de mim está triste. Estou meio
atordoado, meio pacífico, meio estranho, meio cabisbaixo.
Digamos, meio indignado com a situação atual dos seres humanos
que são metade homem e metade animal, metade bom e metade
canibal, metade corrupto e metade falso. Talvez, se não mudarmos
as nossas atitudes, seremos podres não pela metade, mas por
inteiro. Estamos caminhando para o fim dos tempos.
Não me comovo por completo, não me satisfaço por inteiro e preciso
de alguém que me apóie nas minhas decisões, que me ajude a
escolher o rumo certo e que some à minha outra metade. Preciso de
um Santo, de um Deus, de uma droga, de um amigo, de um
psicólogo, de uma mulher, de um anjo, de um pastor, de uma bola
chamada Wilson, sei lá. Sozinho não somos ninguém, sozinho
enlouquecemos e esquecemos que somos pessoas capazes de ir
muito além.
Sou apenas meio, meio insoso, meio desligado, meio covarde.
Sou completamente pela metade. Ainda não consegui formar uma
opinião concisa e inteira do que está acontecendo, mas acho que
os meios de comunicação, os inteligentes programas de TV e revistas
sensacionalistas, me deixaram assim... meio bobo. As eguinhas
pocotós, as lacraias, os batidões, me lesaram pelo resto da vida e
hoje apresento idéias desconexas, perdidas, procurando contexto e
morrendo pela metade. Não consigo pensar e se escuto uma
musiquinha, logo começo a mexer a bunda, força do hábito no país
de fazedoras de mini-prostitutas (me refiro a apresentadoras de
programas infatins que todos nós conhecemos) que fazem sucesso
na telona e conquistam todo o país.
Mas para que ser completo? Me diz qual a importância de ser
autônomo, de construir a sua própria vida e chegar a suas próprias
conclusões? Nós precisamos deles, estou falando dos nossos
queridos deputados, prefeitos, vereadores, presidentes e por aí vai.
Um é a metade do outro, juntos somos um só. Veja bem, nós
pagamos os impostos e eles recebem, nós trabalhamos dia e noite
e a grande maioria rouba. Não disse? Um completa o outro, mais ou
menos como garfo e faca, arroz e feijão. Alguém tem que trabalhar
para o outro gastar.
Hospitais pela metade, professores com formação a desejar, pontes
não concluídas, estradas semi-prontas ou não feitas, alunos
semi-analfabetos, talvez seja daí o meu sentimento meio
inconformado, insatisfeito e alterado. Mas tudo isso passa, é só ligar
a TV e assistir um bom jogo de futebol, ou quem sabe uma dupla
sertaneja cantando de graça na praça da cidade. As nossas angústias
somem e reverenciamos a nossa falta de memória, o abandono das
autoridades, a morte de milhares de miseráveis, os tiroteios, a falta de
cultura e por incrível quepareça em pleno século XXI, a falta de
informação.
Em um país onde só existem meias verdades, onde apenas metade
da história é contada, onde você precisa se dividir em dois para
sobreviver, onde uma pequena parcela é beneficiada, onde as leis
só servem para os mais fracos, me diz para que eu quero ser
inteiro? Se tudo é pela metade, eu preciso ser completo?
Que mania de ser diferente, alienígena, mutante. Onde já se viu ser
inteiro, perfeito, não desviar dinheiro, não trapacear, não matar por
ganância. Que mundo é esse? Estou tendo alucinações e imaginando
um mundo novo, surreal e estranho.
Só para celebrar essa nossa
competência em fazer tudo pela metade e por sinal fazemos isso
muito bem, gostaria que você olhasse ao seu redor. Veja milhões de
reais investidos em obras que não chegaram a lugar algum, processos
penais parados, leis abandonadas e tantos outras coisas largadas
pelo meio que não dá para listar.
Então para comemorar, não vou ser diferente dos demais, vou deixar
o meu texto sem conclusão, apenas pela metad



Ícaro Vieira

5 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Unknown disse...

Ícaro, texto muito bem redigido e bem elaborado. Além do conteúdo ser de qualidade, um dos aspectos que mais me chamou atenção, e não sei se seus leitores também se ateram a isto, foi o fato de que quando se lê o título, vem em nossa mente que você irá discorrer sobre um determinado assunto (no caso falar da sua outra metade seria falar de seu amor, sua companheira) e quando lemos o desenrolar do texto o assunto abordado é outro completamente distinto do que era de se esperar; muito inteligente e criativo. Deus te abençoe e faça com que você continue progredindo em suas escritas, que por sinal são dotadas de sucesso.
Beijos, te amo.
Ass: Sua outra metade.

Rafaella Rocha

Paula Signorini disse...

Ícaro, meu caro... pra mim isso só acontece pq somos meio cidadãos, meio eleitores, meio gente, meio sem-vergonha. Temos só meia coragem de protestar, meio minuto para pensar, meia hora pra se informar. Ficamos sempre meio tristes com a situação, tomamos meio engradado de cerveja e continuamos nossa vida meia-boca.

Abraço

Paula

delena disse...

parabens pelo texto, adorei.fiquei MEIO depressiva rsrsrsrs. vc esta cada dia melhor. te amoooooo bjos Delena

Anônimo disse...

bom comeco