segunda-feira, 11 de junho de 2007

Brasil. Um país de quase todos.

"Acordei!"
Foi o que ela me disse.
Parou de fumar, de cortar os pulsos, de se embriagar.
Largou as más companhias e já vê o céu se encher de azul.
Até quando você vai aguentar?
"Não sei.
Eu vou tentar."
Respondeu curto e grosso.
É melhor não estragar os planos dela, vou deixá-la tentar abandonar
os vícios e seguir por outra direção. Mas às vezes é
preciso entorpecer a alma para segurar a barra e não
entrar em erupção.
Ela, não consegue apenas anestesiar a dor. Para satisfazê-la, é
necessário entrar em coma profundo. Usar tudo que for possível,
ultrapassar todos os limites e sangrar. Excesso e paranóia dominam
o seu ser.
Cortou os cabelos, comprou roupas novas e procurou emprego;
nenhuma vaga. Triste verdade que humilha milhões de brasileiros.
Noites sem pregar os olhos revisando cada rodapé dos jornais, há de
encontrar uma vaga, ainda acredita em milagres.
"Não falei? Garçonete em um pub. Deus olhou para mim."
Agradeceu em alto e bom som.
Primeira semana, um sucesso. Aguentou firme até inteirar o mês.
As contas chegam sem parar e o suado salário vai direto
quitar as dívidas. Trabalha para sobreviver, salário curto, uma
miséria para falar a verdade.
Acorda às 7 da manhã, pega dois ônibus lotados e
começa a ralar às 10.
Encerra o expediente as duas da madrugada. Difícil aguentar a pressão.
Todos se divertindo, bebendo, fumando, se comendo com os olhos,
prostituindo. O cheiro da orgia começa a lhe incomodar. Fissura!!!
Segundo mês. O medíocre salário já não dá para pagar as contas e
roubar alguns trocados no caixa é a opção mais eminente.
Ao fim de mais um dia o stress é total.
Apenas um trago para relaxar, quem sabe uma dose de run.
Não aguentou a tentação. Eterna dependente química
vigora em suas veias.
O patrão descobre o desfalque. Olho da rua sem direito a nada.
Fura o mês do aluguel e é despejada. Sem comida, sem estudos,
sem expectativa de vida, sem lugar para passar a noite.
Sua mente sonha com o entorpecer.
Vira a esquina ao lado, uma boca de fumo. Uma pedra?
Sem dinheiro o corpo vira moeda
de escambo. Sexo em troca de sanar o vício.
Roubo, prostituição, drogas. Apenas mais uma na esquina cheirando
suas esperanças, sua refeição, seus planos e sonhos.
Voltou à rotina. Ela conhece bem essa vida e espera a morte chegar,
pois aguardar a esperança neste país demora demais.
Ela não tem futuro. É apenas mais um problema social.
Vamos esquecê-la, pois rapidinho ela apodrecerá.
Brasil. Um país de todos.
Será?


Ícaro Vieira

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