quinta-feira, 4 de julho de 2013

Sou muitos Eus em um só.


Já sofri de teimosia, medo de segunda e bronquite aguda. Já torci por um time e mudei na cara mais dura. Já provei, já bebi, já fumei, viajei, beijei e até comi. Já iludi, assumi, afirmei, soneguei, me fodi. Já tive grana, já perdi, já tive educação e já desaprendi. Já fui vegetariano, comi muita carne, uivei para a lua e hoje prefiro o sol da tarde. Já escutei Ozzy e um pouco de mambo, já preferi a Índia e hoje me amarro num tango. Já fui atleta, já fui obeso, tive carro, já andei de camelo. Já mandei meu presidente pra cucuia, fiz dedinho e mandei enfiar na bunda. Já andei de terno e mal arrumado, já fui à missa muitas vezes obrigado. Já fui padre, fui endiabrado, milhares de vezes tentei ser amável. Já tive medo, já fui corajoso, já fui otário e também bom moço. Já fingi um sorriso para manter meu salário, já chamei meu chefe de palhaço. Já fui metódico e simpático, já fui fanático e também pragmático. Já fui falante, já fui calado, já tive cabelo grande e raspado. Já fui rebelde, apático, carente, amado. Já fui careta e também porra louca, já tive diploma e também já fui trouxa. Já fui canalha, já fui covarde, já fui amante e também enganado. Já louvei Deus, já fui ateu, já fui burguês, já fui plebeu. Já fui liberal, já oprimi, gostei de Dalai Lama e bombas explodi. Já fui mentiroso, já fui sincero e paguei caro por ser muito honesto. Fui poeta, fui escritor, fui fotógrafo e também ator. Já fui sangue quente, já fui morno, já fui frio e também escroto. Fui ético, fui etílico, já fui desordeiro, submisso, ordinário, cafona e já tive sonambulismo. Não sei se tudo isso é verdade ou surrealismo, pois eu vivo em constante transformação e não me lembro de tudo que eu vivo.

A realidade é que às vezes somos tudo isso e muito mais, às vezes queremos ser, raramente conseguimos, outras vezes morremos sem tentar ser o que realmente gostaríamos. Quase sempre temos medo e nos perguntamos no que os outros irão pensar, ainda mais vivendo em uma sociedade hipócrita que não aceita pessoas que fogem dos modelos pré-estabelecidos por sei lá quem. Quando somos diferentes, ousados, provocativos, multifacetários, muitas vezes somos atordoados por vozes que de dentro da gente questionam: o que fazer comigo? Sou tão diferente, mudo de opinião e postura demasiadamente. Até ficamos envergonhados sem saber o que fazer com nós mesmos, a verdade é que não há com que se envergonhar, ridículo seria se fossemos para sempre os mesmos. Nós erramos, aprendemos, a vida é uma enorme montanha russa onde superamos e decaímos a todo instante. Você tem de se preocupar quando sempre se é o mesmo. Desencorajado, apático, que definha aos poucos em uma vida pacata e sem graça, onde o medo de errar e mudar não o deixa viver. É inevitável amadurecer, a vida por si só nos dá esse prazer de transformação a todo instante, só não muda quem não quer ou prefere agradar os outros a si mesmo. Erre, mude, tente. Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter a mesma e velha opinião formada sobre tudo. Eu quero ser para sempre muitos em um só EU.

Icaro Vieira

2 comentários:

Anônimo disse...

Um grande escritor, sem sombra de dúvidas. Só não se esqueça dos vizinhos quando a fama chegar, pois seu sucesso é só questão de tempo. Abraço. Marleide.

Na Caixola disse...

Obrigado Marleide, fico muito grato pelo elogio. Retorne mais vezes no blog e se puder indique para seus amigos que gostam de leitura. Abraço.