Para celebrar essa importante data segue a música "Fuckin´up" do Neil Young com a participação do Pearl Jam. Nasci escutando isso aí e quero escutar para sempre.
Ícaro Vieira
Nascida nos E.U.A em 1933, Nina Simone foi uma grande pianista, cantora e compositora. O nome artístico foi adotado aos 20 anos, para que pudesse cantar blues, a "música do diabo", nos cabarés de Nova Iorque. Nina foi mais a fundo em seu passeio pela música e mergulhou fundo em diversos estilos como o jazz, soul, gospel e folk. Uma cantora versátil e de sensibilidade extrema, perseguida por ser negra e por abraçar publicamente todo tipo de combate ao racismo. Era uma intérprete visceral e tocava piano com energia e perfeição.
Nasci no início da década de 80 e em alguns surtos reflexivos que me atordoam frequentemente, percebi que de lá pra cá o mundo mudou muito. É claro que muitas coisas mudaram para melhor, por exemplo, a cura de várias doenças, a tecnologia estrondosa que invadiu as nossas vidas em todos os setores e segmentos, o que facilitou muita coisa. Mas onde quero chegar é na área cultura, formadora da ideologia e o caráter de milhares de crianças e adolescentes.
Substancialmente a inferioridade cultural do final da década de 90 e dos anos 2000, tomou conta de toda uma geração que hoje vive em crise existencial, rebola na boquinha da garrafa, não gosta de ler (porque não sabe interpretar), acha T.U.D.O ver filmes de humor fácil com cenas de sexo e adora cortar os pulsos para chamar a atenção.
Em um passado não tão distante, crianças não tinham nenhuma maldade e nas festinhas de aniversário o que se costumava a fazer era dançar ao som do Balão Mágico, Trem da Alegria, Dominó, Menudos. Cerveja era para adultos, tomávamos era refrigerante em copo de vidro, comíamos salgadinhos, brincávamos de pique-pega. A transformação de uma década para a outra não foi apenas simbólica. No final dos anos 90 e principalmente nos dias de hoje a banalização do sexo e da prostituição trouxe para o mundo (afinal de contas exportamos a influência musical – Axé - e suas dançarinas nuas para o mercado americano. Ou você não vê os clips de Rap cheio de mulheres peitudas e rabudas?) “grandes ícones” que jamais serão esquecidos, não pela habilidade musical, mas sim pelas suas nádegas enormes que serão lembradas no banheiro de milhares de adolescentes. Carla Perez virou Sheila Carvalho que virou Sheila Mello, que virou uma salada de fruta. Mulher melancia, moranguinho, melão... Ao invés de brincadeiras sadias, adolescentes transam sem camisinha e colocam filhos no mundo sem a menor condição, usam drogas como se fosse uma coisa normal, idolatram o Créu como se fosse algo místico. Rodas de viola à luz do luar onde canções poéticas como as escritas pelo Aborto Elétrico, Legião Urbana, Cazuza, foram substituídas por rodas de pagode romântico e micaretas, onde ficar com uma pessoa só é uma vergonha, tem que pegar é geral (Lembre-se, nada de conversar, porque tem que pensar muito se a conversa for filosofal). Revistinhas em quadrinho perderam espaço para os vídeos games cada vez mais realistas, violões foram trocados por armas, serenatas perderam a vez para as brigas.
Uma avalanche de esgoto cultural invadiu as mídias de todo o país e foi capaz de formar cidadãos despreparados, incapazes de modificar a realidade do Brasil e propor soluções. Escrever o próprio nome não é ser alfabetizado, juntar algumas palavras e formar uma frase não é compreender o que está escrito. Você acha que sua bagagem cultural influência a sua vida?
A discrepância é muita e a distância entre os anos não é tão grande assim. Gosto de falar que cada geração tem os heróis que merecem. Alguns idolatram Roger Walters outros preferem MC Serginho, alguns se distraem com as palavras de Guimarães Rosa, outros preferem a Rita Cadillac. Alguns veneram Che, outros Luciana Gimenez. A cultura forma pessoas diferentes que futuramente podem governar o nosso país. Quem nós queremos? A cada dia mingua os nossos intelectuais, ícones da música não nascem mais, literários morrem... a culpa é de quem? Da mídia que quer ganhar montanhas de dinheiro colocando mulheres gostosas e músicas de duplo sentido para o povo requebrar ou do estado que não deseja formar cidadãos intelectos que contestarão as formas de governo? Acho que é uma fusão dos dois grandes detentores do poder. É um mundo capitalista, o que é lucrativo sempre vai sair ganhando.
O mundo gira, as folhas caem no jardim, o sol nasce e morre todos os dias, tudo muda a cada instante. Ainda bem que não somos os mesmos, que mudamos nossos pensamentos, agimos demasiadas vezes de formas diferentes, até o nosso corpo muda freneticamente. Um dia somos lizinhos, no outro somos peludos loucos por uma lâmina de barbear, mas um dia ficaremos enrugados com poucos pêlos para contar história e com saudade daqueles cabelos longos da adolescência rebelde. É assim, e sempre será, uma verdadeira engrenagem que não pára. Exatamente isto que me atrai, que me deixa feliz, que me faz sonhar e querer viver cada dia veemente.
Estou dizendo isto porque mais um ciclo se completa e aqui estou, diferente do inverno passado. Graças a Deus. Não importa se mudei para melhor ou para pior, o fato é que sofremos metamorfoses sucessivas. Cabeça cheia de cultura ou vazia, corpo alterado ou estagnado, mente sã ou tuberculosa, demoníacos ou santidades ao seu lado. Você não pensa como antigamente, mesmo que queira permanecer na inércia a lei da gravidade faz suas atitudes mudarem. O sujeito pode ser durão, quando envelhece fica mais penetrável, acessível, sentimental. Faz parte do jogo da vida, aprendemos apanhando.