Nasci no início da década de 80 e em alguns surtos reflexivos que me atordoam frequentemente, percebi que de lá pra cá o mundo mudou muito. É claro que muitas coisas mudaram para melhor, por exemplo, a cura de várias doenças, a tecnologia estrondosa que invadiu as nossas vidas em todos os setores e segmentos, o que facilitou muita coisa. Mas onde quero chegar é na área cultura, formadora da ideologia e o caráter de milhares de crianças e adolescentes.
Substancialmente a inferioridade cultural do final da década de 90 e dos anos 2000, tomou conta de toda uma geração que hoje vive em crise existencial, rebola na boquinha da garrafa, não gosta de ler (porque não sabe interpretar), acha T.U.D.O ver filmes de humor fácil com cenas de sexo e adora cortar os pulsos para chamar a atenção.
Em um passado não tão distante, crianças não tinham nenhuma maldade e nas festinhas de aniversário o que se costumava a fazer era dançar ao som do Balão Mágico, Trem da Alegria, Dominó, Menudos. Cerveja era para adultos, tomávamos era refrigerante em copo de vidro, comíamos salgadinhos, brincávamos de pique-pega. A transformação de uma década para a outra não foi apenas simbólica. No final dos anos 90 e principalmente nos dias de hoje a banalização do sexo e da prostituição trouxe para o mundo (afinal de contas exportamos a influência musical – Axé - e suas dançarinas nuas para o mercado americano. Ou você não vê os clips de Rap cheio de mulheres peitudas e rabudas?) “grandes ícones” que jamais serão esquecidos, não pela habilidade musical, mas sim pelas suas nádegas enormes que serão lembradas no banheiro de milhares de adolescentes. Carla Perez virou Sheila Carvalho que virou Sheila Mello, que virou uma salada de fruta. Mulher melancia, moranguinho, melão... Ao invés de brincadeiras sadias, adolescentes transam sem camisinha e colocam filhos no mundo sem a menor condição, usam drogas como se fosse uma coisa normal, idolatram o Créu como se fosse algo místico. Rodas de viola à luz do luar onde canções poéticas como as escritas pelo Aborto Elétrico, Legião Urbana, Cazuza, foram substituídas por rodas de pagode romântico e micaretas, onde ficar com uma pessoa só é uma vergonha, tem que pegar é geral (Lembre-se, nada de conversar, porque tem que pensar muito se a conversa for filosofal). Revistinhas em quadrinho perderam espaço para os vídeos games cada vez mais realistas, violões foram trocados por armas, serenatas perderam a vez para as brigas.
Uma avalanche de esgoto cultural invadiu as mídias de todo o país e foi capaz de formar cidadãos despreparados, incapazes de modificar a realidade do Brasil e propor soluções. Escrever o próprio nome não é ser alfabetizado, juntar algumas palavras e formar uma frase não é compreender o que está escrito. Você acha que sua bagagem cultural influência a sua vida?
A discrepância é muita e a distância entre os anos não é tão grande assim. Gosto de falar que cada geração tem os heróis que merecem. Alguns idolatram Roger Walters outros preferem MC Serginho, alguns se distraem com as palavras de Guimarães Rosa, outros preferem a Rita Cadillac. Alguns veneram Che, outros Luciana Gimenez. A cultura forma pessoas diferentes que futuramente podem governar o nosso país. Quem nós queremos? A cada dia mingua os nossos intelectuais, ícones da música não nascem mais, literários morrem... a culpa é de quem? Da mídia que quer ganhar montanhas de dinheiro colocando mulheres gostosas e músicas de duplo sentido para o povo requebrar ou do estado que não deseja formar cidadãos intelectos que contestarão as formas de governo? Acho que é uma fusão dos dois grandes detentores do poder. É um mundo capitalista, o que é lucrativo sempre vai sair ganhando.
Se você tem medo do futuro e do que seus filhos irão ver, escutar, idolatrar, acalmem-se. As eleições da sua cidade estão chegando e a situação só irá piorar. Quer pagar pra ver?
Ícaro Vieira
Um comentário:
Voce me surpreende a cada dia com seus textos, muito bom mesmo. Nao aguento mais ligar a tv e ver estas porcarias que eles chamam de musica,acho que nao tem soluçao. Parabens, BJOS, te amo Delena
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