domingo, 27 de abril de 2008

Lados opostos

Enquanto ela pensa em pular da janela, pulei de cabeça nesse amor.
Enquanto ela pensa em se afogar, mergulhei nesse mar de sentimentos.
Enquanto ela pensa em se cortar, já me sangrei por inteiro.
Enquanto o mundo passa pela sua janela, ela envelhece sem se entregar a tudo que a vida lhe oferece.
Enquanto ela está inerte, já fiz o que devia e não devia. Experimentei uma overdose de sensações, alucinações e exageros. Sob efeito do meu amor, o fogo derreteu, o gelo incendiou. Nunca me arrependi, ela sempre está pensando no que eles vão falar.
Enquanto ela se tranca no banheiro, liberto meu coração para novas emoções.
Enquanto ela sobrevive, vivo intensamente cada instante. Faça chuva ou faça sol, vou cantando, espantando o mau humor.
Ela fica parada, eu corro, grito, mordo. Ela chora, eu também. Ela chora, eu sorrio. Ela apenas chora...
Tudo novo pra mim, tudo igual pra ela. Penso em novas possibilidades, ela pensa na mesma coisa.
Enquanto ela morre aos poucos, vou nascendo novamente a cada dia.
Enquanto sua vida é sem sal, tomo remédio para hipertensão.
Enquanto ela arranca os cabelos, todo semana tenho que ir ao barbeiro.
Enquanto ela se desfaz, me recomponho.

Adeus meu bem, arrumei um outro alguém. Estes fatos vis são difíceis demais para mim e se lhe troquei não foi por maldade. A vida não é como a física e verdadeiramente os opostos não se atraem.


Ícaro Vieira

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Beirut

Descobri há poucos meses um som diferente e fiquei intrigado com tamanha sensibilidade musical. Isto é muito difícil nos dias de hoje, mas graças a Deus não é impossível. Uma banda repleta de instrumentos e rica em harmonia, um som que parece vir lá do outro lado da Europa, das ruínas do pós-guerra em algum pequeno país da ex-Iuguslávia ou de ruas vazias de alguma cidade soviética sucateada após a guerra fria. Surpreendi-me ao procurar uma referência da banda no google e descobrir que não se tratava de uma banda e sim de uma única pessoa. O nome do grande músico é Zach Condon, um rapaz norte-americano com seus vinte-e-poucos anos que gravou o seu primeiro álbum no seu próprio quarto. No mínimo instigante, como pode uma pessoa tão jovem ter tamanha sensibilidade, cantar com a alma, criar arranjos belos? Com a sua magnífica voz, ele parece ter vivido toda a tristeza que a sua música desperta, uma mistura de dor e alcoolismo. Mas isso não basta, o criador da banda Beirut, nunca tocou todos os instrumentos que as suas músicas carregam, com a sua sensibilidade musical, foi capaz de aprender e tirar alguns sons incríveis. Beirut é algo mágico, que acende e acaricia a sensibilidade, que passeia na alma e expõe a ferida, é diferente e encantador. 'The Flying Club Cup' é o primeiro trabalho do Beirut como uma banda completa, um álbum rico e tão bom quanto o primeiro, gravado em um quartinho. Prepare-se para escutar uma promessa do munco musical.
Aumente o som e saboreie algo sofisticado, diferente do arroz com feijão. Beirut é uma boa pedida.





Ícaro Vieira

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O fogo e o graveto

Em uma noite de pleno inverno, somente o orvalho descansava sobre o telhado. No ápice do frio e da solidão que assolava um pequeno e humilde casebre, o fogo não era capaz de aquecer os corpos entrelaçados e trêmulos que ali habitavam. Apenas uma pequena brasa incandescia uma luz fraca, levemente avermelhada no final da lareira, que tentava mornar a madrugada. Era visível o final do fogaréu que esquentou por algumas horas aquele lugar, mas a fumaça tomava conta do frígido recinto, anunciando o apagar das chamas.
Triste, o fogo sentia-se inútil, fraco, frágil diante de tal situação. Em estado de total depressão, ele sabia que não estava desempenhando o seu papel, exercendo a soberania que já fez temer seres vivos e foi motivo de guerra pela raça humana.
O vento úmido e gelado entrava pela fresta da janela, ameaçando o final absoluto da fogueira. Seu reinado estava ameaçado, entrando em declínio e a morte prematura era eminente. Definhando definitivamente, alguns pedaços de gravetos foram adicionados às brasas brandas, galhos secos e retorcidos, grandes toras que começaram a alimentar e a queimar como Nero fez com Roma. Poderosas labaredas começaram a bailar, cruzando e cortando a noite fria, estalando e musicando o silêncio noturno. O fogo sentia-se viril, soberbo, forte, incontrolável. Ergueu o nariz e começou a esbanjar confiança, dizia para todos que ali estavam, que ele era o maioral, que ninguém era capaz de apagar o seu espetáculo pirotécnico, que os homens se curvavam ao aquecer das suas chamas. Faíscas eram lançadas ao teto, iluminavam a noite vazia e para o fogo, ele era o rei das atenções.
Segundo sua prepotência, ele não precisava dos velhos gravetos, secos e fracos, das toras das árvores que foram mortas e não serviam para mais nada, ele não precisava de ninguém, não precisava de nada para erguer sua força de aquecimento. Exaltado, afirmava que nada era mais importante que o seu calor, que o fervor da sua combustão.
Mas como tudo na vida tem um fim, novamente as madeiras que alimentavam aquele fogaréu foram minguando e o baile de fogo esvaiu. Já era quase de manhã e inconformados com as afirmações ditas há algumas horas atrás, os gravetos resolveram mostrar a sua infinda importância e apagaram aquela chama arrogante.
O fogo revoltou-se, chorou e virou pó. Por não dividir os benefícios do poder, os méritos, o sucesso, as atenções, por achar que o mundo era somente dele, que não precisava de ninguém, a conspiração falou mais alto e emudeceu a soberania instantânea de alguém que precisa dos outros e não reconhece. De alguém que é tão forte e tão fraco, que através de um simples copo de água vai das chamas ao pó.



Ícaro Vieira

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O Retorno de Saturno


Definitivamente eu não concordo com o que muita gente me diz e vomita por ai. Devido ao préconceito estúpido e medíocre que faz parte de todo ser humano, (algumas pessoas são dominadas por ele, outras não), os indivíduos são influenciados pelos meios de comunicação, principalmente pelas rádios fms (a grande maioria) que tocam apenas os sucessos dos artistas. Algumas bandas criam sucessos ridículos que explodem nas fms e grudam nos ouvidos, mas em muitos casos, sucessos são impostos pelas gravadoras que pagam os veículos de comunicação para tocar aqui que eles querem. Não sei se no caso do Detonautas Roque Clube foi uma imposição da gravadora, mas no primeiro cd da banda, alguns sucessos tocaram tanto nas rádios que ninguém agüentava escutar aquelas músicas mais. O fato é que a banda se promoveu e apareceu na mídia, mas em contra partida se criou um preconceito e muita gente ainda acha que o Detonautas é uma banda de adolescente, de um sucesso só. Já ouvi dizer que a banda é a mesma coisa que CPM 22, NXZero, Pitty (me desculpe quem gosta, respeito sinceramente). Pára com isso!!! Pelo amor de Deus, não fale uma bobagem desta, não cometa uma injustiça. A diferença é gritante, será que ninguém vê? Já fiz muita gente mudar de opinião, basta escutar a obra completa, pular os hits. Eles são músicos de verdade, letras inteligentes, baladas interessantes, pegadas fortes. O penúltimo cd (Psicodeliaamorsexo & distorção) é uma junção de Led Zeppelin e Stone Temple Pilots, uma obra prima do rock nacional. É claro que eles falam de amor, porque só falar de injustiça e causas sociais enche o saco. O tema amor é infinito e dá para fazer belas canções com o coração sangrando. Para finalizar, deixo aqui uma dica. Acesse o www.myspace.com/detonautas lá você pode escutar o NOVO cd dos caras: Detonautas Roque Clube – O retorno de saturno. Isto é algo ousado que algumas bandas inteligentes estão fazendo por aí, colocando a música na internet. O Retorno de Saturno é uma obra diferente das outras já criadas por eles e é isto que me atraiu. Gosto de bandas que mudam a cada cd, que correm atrás do novo.
Deixe seu preconceito de lado, abstenha-se da ignorância pelo menos por alguns minutos e escute um rock autêntico, diferente dessas asneiras pré-fabricadas que tocam nas rádios de todo país. Rock nacional PRESTA e MUITO.


Ícaro Vieira


quarta-feira, 2 de abril de 2008

Dias melhores virão

O sol vem me chamar mais uma vez e anuncia a chegada de uma nova estação. As folhas secas caem no jardim, já é tempo de despertar e ir à luta, de espantar o esgotamento mental e conquistar o pão. Lindo mundo insosso, enquanto ele brilha lá fora, o trabalho me prende aqui.
Da janela eu posso ver a liberdade, tão perto e tão longe, tão surreal e atraente. Meus pensamentos são cozidos a banho Maria, já falta tempo para tudo, até nos sonhos os compromissos vêm me assombrar e preencher meus momentos de distração.
Enquanto alguns querem um lugar ao sol, outros vendem o seu lugar por sombra e água fresca. Dizem que sou novo e tenho disposição, meu pai não é tão jovem assim e ainda tem que ter força de vontade. Ele sonha com uma árvore imensa, água de coco gelada e nada pra fazer na cabeça. Oásis a vista, mas ele terá que trabalhar muito ainda, vida difícil, dinheiro extinto no país da sonegação. Qual é o sentido de tudo? Trabalhar para sobreviver? Ser honesto e pastar? Honra ou status? A lua cruza o céu avermelhado e não será hoje o fim dos tempos, isso irá perdurar por muitas primaveras, talvez para sempre. Acendo uma vela para a sorte. É preciso ter energia positiva ao lado. Enquanto a cera não se desfaz, trilho meu longo caminho com honestidade e de cabeça erguida. Dinheiro não tenho, vontade de vencer me sobra e é assim que pretendo ser alguém. Aos poucos vou subindo degrau por degrau e no topo chegarei sem trapacear, pois foi assim que aprendi. Tudo na vida que sobe errado, a tendência é cair.
Sol quente e escaldante, me aguarde. Dias melhores virão. Acredite!!!



Ícaro Vieira