quarta-feira, 4 de julho de 2007

Tarde de Junho

Apenas um olhar...
O bastante para atravessar a minha retina e levar até o cérebro

uma maravilhosa sensação de prazer.

Olhos negros, grandes, saborosos como duas jabuticabas prontas
para serem colhidas no ápice do amadurecimento. Olhar instigante,
avassalador, fatal. Diria perfeito.
Logo em seguida, adentrei ao seu sorriso. Absolutamente inexplicável.
Poderia passar o dia inteiro tentado descrever, mas, prefiro não
me

arriscar.
Falante, desprovida de qualquer vergonha, articulada, um humor
delicado e aprazível. Os impulsos palpitavam em meus neurônios
adormecidos e anestesiados por tanta beleza e já era impossível
não me apaixonar. O pôr-do-sol ganhava tons maiores e o horizonte
coloria-se de um alaranjado instigante. Os pássaros cantavam a
mesma canção e bailavam em meio à harmoniosa melodia.
Seu vocabulário enfeitiçava os meus ouvidos e eu sorria para tudo
que era dito. Não conseguia controlar as minhas pernas; elas
tremiam a todo instante quando me arriscava uma tímida
aproximação.
O vento frio daquela tarde de junho acariciava os seus cabelos
negros e trazia para o meu arredor o seu perfume alucinador.
Transformava-me por um instante em um beija-flor pronto para
degustar o seu doce néctar. O fervor dos meus instintos atravessava
a minha falta de bom senso e o impulso era inevitável. Como um soco
disparado em plena uma agressão sem ser anunciada, lhe pedi um
beijo. A resposta veio entre sorrisos e desconversas. O mundo
parecia ter parado por um instante e tudo se calou.
Ela me olhou de lado e vagarosamente aproximei-me de sua face

angelical, tudo ficou em câmera lenta e não conseguia ouvir mais
ninguém, apenas o macio som dos seus lábios roçando entre os
meus. Lancei-me ao mar de sensações, desprovido de qualquer
equipamento de mergulho. Uma tempestade de emoções oriundas
do lado mais prazeroso do ser. Palpitações a flor da pele, arrepios
frenéticos, entusiasmo exacerbado. Alimentei-me do prazer

inigualável, da enxurrada alucinógena do seu beijo e abri os olhos
ao fim do turbilhão.
Ela sorriu e não me lembro o que disse. Não poderia pensar em
mais nada, estava entretido com a minha dopamina.
Embaraços à parte descobrimos um mundo particular, um universo

abstrato criado só para nós dois. Tudo conspirava ao nosso favor e
os anjos tocavam sua música celestial dando um ar misterioso ao
nosso fim de tarde.

Como um ser místico ela desapareceu entre a minha euforia e eu já
não
sabia se um a encontraria novamente.
A vida é mesmo engraçada e como
tudo que é especial e único um
dia
acaba, ela se foi. Mas toda noite
vem me ver no emaranhado
dos meus sonhos.



Ícaro Vieira

Um comentário:

Unknown disse...

As combinações das palavras parecem ser esculpidas e minuciosamente trabalhadas por um ourives; que perfeição! Que história! Por estantes, nos faz acreditar que seja verdadeira; e por que não? Quem sabe? Só o autor dessa arte com os vocábulos pode nos dizer. Mas, certamente há um alguém, somente uma pessoa, que ao ler o texto, as entrelinhas do texto, saiba revelar o verdadeiro sentido desse jogo de palavras, tenho plena convicção de que ela existe...
Ícaro,
ler e não gostar desse texto é impossível, será por quê?...
Beijos.