quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Sempre a mesma coisa e o país continua na merda

Inacreditavelmente ele chorou. Debruçou seu corpo pesado em cima da mesa de ipê amarelo que estava na entrada da sala de jantar e chorou seco. Cansado de tanta amargura, cansado de tanto apanhar, de sempre ser passado para trás. Ao fundo o som de um velho blues sangrava as suas mágoas e ele refletia com os olhos vermelhos sobre tudo o que permeava a sua vida. Todos os fracassos que inundaram o seu dia-a-dia, sua falta de coragem e principalmente a morbidez que lhe transformou em um vegetal. Nos pulsos as cicatrizes da dor, no subconsciente a maldade era freqüente aliada e nas horas de solidão cheirava todos os problemas em uma fungada só.
Caído em um quarto escuro, as velas iluminam o seu rosto enrugado e sofrido, enquanto as mulatas inchadas de tanto malhar e esculpidas em silicone, sambam patrocinadas pelo narcotráfico carioca que vai tomando conta da situação e do poder. Todos sorriem sobre o efeito do álcool e entre um golo e outro, um bacanal atravessa a noite fazendo a alegria dos gringos que se apaixonam pelas maravilhas sexuais do nosso Brasil. Exploração, suborno, sexo em troca de euros e dólares, tudo isso em troca de esperança. Dinheiro imundo oriundo do primeiro mundo. Lá tem educação, cultura, saúde, aqui eles compram diversão.
Nosso amigo sabe disso e anestesia a alma com uma garrafa de cachaça industrializada, vendida na esquina em doses que custam centavos. Álcool puro que desce goela baixo e faz a mente ir para o surreal. O desemprego o desespera, os postos de saúde sem médicos o desespera, a falta de professores qualificados e escolas o desespera, a violência em cada esquina o desespera, a população desesperada o desespera. Todos viram as costas e rebolam na boquinha da garrafa, espere só mais um pouco, depois do carnaval consertaremos aquele buraco na rua, iniciaremos a construção de um novo hospital, diminuiremos os impostos, o país voltará a crescer... sempre a mesma história e vamos vivendo um conto de fadas onde o príncipe nunca aparece para salvar nossas vidas. Depois que passa o carnaval a desculpa é a mesma, não temos verbas. Engraçado, para investir no carnaval o dinheiro aparece, para trazer gringos (não são todos) que fomentam a exploração sexual eles abrem os cofres públicos, mas para satisfazer uma necessidade básica para a nossa população, eles viram as costas. “Carnaval, futebol, não mata, não engorda e não faz mal”. É pensando assim que vamos vivendo nesse buraco sujo, imundo de tanta corrupção e vamos levando na bunda vendo a Mangueira entrar. Não, não estou falando da Estação Primeira de Mangueira, eu tenho pavor de escola de samba. Estou falando no pior sentido da palavra e que me perdoem os conservadores. É revoltante, mas é a mais pura verdade.

E aquele cara do início da história, continua decadente. Sem oportunidades decentes na vida, ele agora exporta mulheres gostosas para o velho mundo e vai ganhando a vida destruindo sonhos.
Sorria, você está no Brasil.


Ícaro Vieira

2 comentários:

Unknown disse...

A verdade doe, mas o que vamos fazer? Vivemos em um país em que a hipocrisia, negligência se encontram no mais alto patamar, é triste, mas temos um governo porco e pra ser sincera, um povo que também não tem um pingo de brilho e vergonha na cara de não reivindicar tais palhaçadas, humilhações, que eles próprios sofrem. Acreditamos em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e até que depois do carnaval a vida voltará ao normal e que viveremos bem melhor, melhor? Enquanto isso vamos convivendo com essa mentira incomensurável, ou com esses mentirosos que nunca serão "extintos", ai ai, BRASIL, país do carnaval, futebol e mulher pelada, grande qualidade nós temos. Não seria mais agradável saber que nosso país é um país de pessoas cultas, educadas e que possui riquezas em muitos sentidos? Mas infelizmente não é assim... Triste realidade.

Beijos meu AMOR!

Rafaella Rocha

Pedro Américo disse...

nao sei nem o que falar.

só posso dizer que minha revolta é igual.


inteligentíssimo o texto meu caro.

=D

Parabéns